Adaptar um texto de outro autor e transportá-lo para outra linguagem artística é sempre uma tarefa arriscada. Ainda mais se o tal texto for considerado por muitos especialistas como "um conto perfeito", e seu autor um dos maiores escritores da história da literatura. Esse é o caso de Emma Zunz, do escritor argentino Jorge Luis Borges. Portanto, sem querermos comparar a (evidente e) superior qualidade literária do primeiro sobre o segundo - mas apenas desejando apresentar uma recriação deste clássico - colocamos aqui, lado a lado, o trecho correspondente desse conto sem diálogo de Borges (ver post anterior) e um trecho da versão adaptada para teatro escrita pelo dramaturgo Diones Camargo (abaixo). Esperamos com isso que o leitor/espectador possa perceber os níveis de aproximação entre ambas as obras e as características narrativas que cada uma das linguagens possibilita e - às vezes também - afasta.
"(...) EMMA: E você acaba de tornar-se uma peça desse jogo. Você é agora e é castigo, assim como é depois e será justiça, tudo ao mesmo tempo, neste tempo sem ponteiros em que nos encontramos. Porque com você, de algum modo eu estou vingando o útero que me abrigou e parindo uma nova Emma... um ser esculpido no mesmo sofrimento de minha mãe, todas as vezes em que ela foi...
HOMEM: Ahhhhhhhhhhh!!!!!!!
EMMA: Meu pai... agora só resta vingar o meu pai. E você – que nunca entenderá nada do que se passou aqui – quando estiver voltando pra sua terra e pra sua esposa gorda e infeliz, naquele navio cheio de peixes e ratos, ainda lá você estará me ajudando na vingança que está pra acontecer. A hora está marcada. A engrenagem começou a funcionar. Neste momento três gerações mergulham na lava de ódio que jorra de dentro de mim. (...)"
HOMEM: Ahhhhhhhhhhh!!!!!!!
EMMA: Meu pai... agora só resta vingar o meu pai. E você – que nunca entenderá nada do que se passou aqui – quando estiver voltando pra sua terra e pra sua esposa gorda e infeliz, naquele navio cheio de peixes e ratos, ainda lá você estará me ajudando na vingança que está pra acontecer. A hora está marcada. A engrenagem começou a funcionar. Neste momento três gerações mergulham na lava de ódio que jorra de dentro de mim. (...)"
Trecho de O Tempo Sem Ponteiros, de Diones Camargo.