segunda-feira, 23 de abril de 2012

"O Tempo Sem Ponteiros" na 5ª FestiPoa Literária


Os atores Elisa Brites (Emma Zunz) e Clemente Viscaino (Sr. Loewenthal).
HOJE, às 20h, vai rolar a leitura dramática da peça "O Tempo Sem Ponteiros", de Diones Camargo, evento que é parte da programação da 5ª FestiPoa Literária. Livremente adaptada de um conto sem diálogos do escritor argentino Jorge Luis Borges, a trama acompanha a trajetória de Emma Zunz, uma garota tímida e reprimida, que parte em busca de vingança após a morte do pai. Alternando tempos narrativos distintos, esta versão para teatro opta por ressaltar aspectos psicológicos da protagonista, evidenciando símbolos sutis propostos por Borges em seu texto, ao mesmo tempo em que os mescla a elementos psicanalíticos, como desejo, obsessão, loucura e mal-estar. 






Conversa com o elenco da leitura durante um dos ensaios.




UMA CURIOSIDADE: apesar de ainda inédita nos palcos, a peça já serviu como base para a criação do experimento ÓRFÃO (O Tempo Sem Ponteiros), ação performática criada em parceria com outros 3 multiartistas que estreou no final do ano passado no MAC - Museu de Arte Contemporânea do RS e recentemente indicada ao VI Prêmio Açorianos de Artes Plásticas 2011, na categoria Artista Revelação.








O TEMPO SEM PONTEIROS

Texto: Diones Camargo
Elenco: Elisa Brites, Clemente Viscaino, Fabrizio Gorziza, Diones Camargo, Renata Stein e Francine Kliemann. 
Trilha Sonora: Martin Dahlströn-Heuser. 
Vídeos: Diones Camargo e Martin Dahlströn-Heuser.


Dia: 23 de abril de 2012 (segunda-feira). 
Hora: 20h.
Local: Teatro Carlos Carvalho
– 2º andar da Casa de Cultura Mario Quintana (Andradas, 736).
Duração aprox.: 40min. 

ENTRADA FRANCA






Fotos: Ana Mendes/divulgação FestiPoa Literária


domingo, 23 de outubro de 2011

Esculpindo uma nova Emma Zunz

Adaptar um texto de outro autor e transportá-lo para outra linguagem artística é sempre uma tarefa arriscada. Ainda mais se o tal texto for considerado por muitos especialistas como "um conto perfeito", e seu autor um dos maiores escritores da história da literatura. Esse é o caso de Emma Zunz, do escritor argentino Jorge Luis Borges. Portanto, sem querermos comparar a (evidente e) superior qualidade literária do primeiro sobre o segundo - mas apenas desejando apresentar uma recriação deste clássico - colocamos aqui, lado a lado, o trecho correspondente desse conto sem diálogo de Borges (ver post anterior) e um trecho da versão adaptada para teatro escrita pelo dramaturgo Diones Camargo (abaixo). Esperamos com isso que o leitor/espectador possa perceber os níveis de aproximação entre ambas as obras e as características narrativas que cada uma das linguagens possibilita e - às vezes também - afasta. 


"(...) EMMA: E você acaba de tornar-se uma peça desse jogo. Você é agora e é castigo, assim como é depois e será justiça, tudo ao mesmo tempo, neste tempo sem ponteiros em que nos encontramos. Porque com você, de algum modo eu estou vingando o útero que me abrigou e parindo uma nova Emma... um ser esculpido no mesmo sofrimento de minha mãe, todas as vezes em que ela foi...

HOMEM: Ahhhhhhhhhhh!!!!!!!

EMMA: Meu pai... agora só resta vingar o meu pai. E você – que nunca entenderá nada do que se passou aqui – quando estiver voltando pra sua terra e pra sua esposa gorda e infeliz, naquele navio cheio de peixes e ratos, ainda lá você estará me ajudando na vingança que está pra acontecer. A hora está marcada. A engrenagem começou a funcionar. Neste momento três gerações mergulham na lava de ódio que jorra de dentro de mim. (...)"

Trecho de O Tempo Sem Ponteiros, de Diones Camargo.



O Caos que a Memória Confunde

Días de Ódio (1954), de Leopoldo Torre Nilsson.
"
(...)EMMA: E você acaba de tornar-se uma peça desse jogo. Você é agora e é castigo, assim como é depois e será justiça, tudo ao mesmo tempo, neste tempo sem ponteiros em que nos encontramos. Porque com você, de algum modo eu estou vingando o útero que me abrigou e parindo uma nova Emma... um ser esculpido no mesmo sofrimento de minha mãe, todas as vezes em que ela foi...

HOMEM: Ahhhhhhhhhhh!!!!!!!

EMMA: (pausa) Meu pai... agora só resta vingar o meu pai. E você – que nunca entenderá nada do que se passou aqui – quando estiver voltando pra sua terra e pra sua esposa gorda e infeliz, naquele navio cheio de peixes e ratos, ainda lá você estará me ajudando na vingança que está pra acontecer. A hora está marcada. A engrenagem começou a funcionar. Neste momento três gerações mergulham na lava de ódio que jorra de dentro de mim.(...)"


"

Trecho (aqui ilegível) de O Tempo Sem Ponteiros, de Diones Camargo. 



"(...) Os fatos graves estão fora do tempo, já porque neles o passado imediato fica meio truncado pelo porvir, já porque não parecem consecutivas as partes que os formam.
Naquele tempo fora do tempo, naquela desordem perplexa de sensações inconexas e atrozes, pensou Emma Zunz uma única vez no morto que motivava o sacrifício? Eu tenho para mim que pensou uma vez e que nesse momento perigou seu desesperado propósito. Pensou (não pôde não pensar) que seu pai havia feito à sua mãe a coisa horrível que a ela lhe faziam agora. Pensou isso com débil assombro e se refugiou, em seguida, na vertigem. O homem, sueco ou finlandês, não falava espanhol; foi uma ferramenta para Emma assim como esta foi para ele, mas ela serviu para o gozo e ele para a justiça. (...)"

Trecho do conto Emma Zunz, de Jorge Luis Borges.


Para ler o conto na íntegra, traduzido para o Português, CLIQUE AQUI.

Para ler o conto no original, em Espanhol, CLIQUE AQUI.



segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ya era la que seria: Emma, Emma Zunz.


Frames do curta-metragem Splits, de Leandro Katz.  
"(...) Emma dejó caer el papel. Su primera impresión fue de malestar en el vientre y en las rodillas; luego de ciega culpa, de irrealidad, de frío, de temor; luego, quiso ya estar en el día siguiente. Acto contínuo comprendió que esa voluntad era inútil porque la muerte de su padre era lo único que había sucedido en el mundo, y seguiría sucediendo sin fin. Recogió el papel y se fue asu cuarto. Furtivamente lo guardó en un cajón, como si de algún modo ya conociera los hechos ulteriores. Ya había empezado a vislumbrarlos, tal vez; ya era la que sería (...)"



Trecho do Conto Emma Zunz, de Jorge Luis Borges. Para ler o conto na íntegra, no original em Espanhol, CLIQUE AQUI

Para ler o conto traduzido para o Português, CLIQUE AQUI.


sábado, 15 de outubro de 2011

Tempo de Vingança


"Remember, remember, the 15th of October..."
"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.

Há tempo de plantar, e tempo de colher;

Tempo de derrubar, e tempo de espalhar as cinzas;

Tempo de sufocar, e tempo de afastar;

Tempo de perseguir, e tempo de jogar no mar;

Tempo de rasgar, e tempo de odiar;

Tempo de paz, e tempo de guerra;

Tempo de Morrer, e tempo de Matar.

Que proveito tem o vingador na vingança em que se empenha? Que todo o homem coma e beba, e goze de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus.

O que é, já foi; e o que há de ser, também já foi; e Ele pede conta do que passou.

Vi mais debaixo do sol que no lugar do juízo reinava a maldade, e no lugar da justiça havia impiedade.

Eu disse no meu coração: Ele julgará o justo e o perverso; pois há um tempo para todo o propósito e para toda a obra.

Disse eu no meu coração, por causa da condição dos filhos dos homens, que Ele os provaria, para que assim pudessem ver que são em si mesmos como os animais.

Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego de vida, e nenhuma vantagem tem os homens sobre os animais, porque ambos são feitos da mesma matéria.

Todos vão para o mesmo lugar: todos foram feitos do pó, e todos ao pó tornarão."

Eclesiastes Reloaded 

domingo, 9 de outubro de 2011

Você Se Lembra Disso?

Ainda não sabe do que se trata a peça de Diones Camargo em que se baseia o experimento ÓRFÃO? Então dá uma olhada nesse e-flyer lá de 2009, enviado para uma lista de seletos que compareceram em peso à leitura dramática do texto até então inédito O Tempo Sem Ponteiros, que ocorreu no saudoso espaço cultural Quinquilharia - Ateliê Colteivo. Naquela  noite, 02 de Outubro de 2009, Sofia Ferreira (a atriz do atual experimento), leu a personagem Elsa, acompanhada pelos atores Francine Kliemann (Emma Zunz) e Philipe Philippsen (Sr. Loewenthal), e do próprio Diones Camargo (homem da loja e rubricas). E então? Lembra agora? Pois é... tem coisas que são como a Vingança: ficam guardadas lá no fundo da memória, mas continuam vibrando como um terremoto.